segunda-feira, 4 de julho de 2011

Adeus, Mário Chamie


Vejo no noticiário que partiu neste final de semana o poeta Mário Chamie. Comido pelo câncer no pulmão e pela quimioterapia aos 78 anos. Vou dizer que desde a adolescência aprecio seus versos. Ele não fulgura no panteão dos bardos mais renomados, talvez por ignorância em torno de seu trabalho, talvez porque nem todos os grandes poetas tenham que estar no ponto mais alto do firmamente. Muitos, como Chamie, é bom que fiquem por aqui, lidando com a palavra como um marceneiro lida com a madeira. Andava esquecido, como tanta gente boa nesse país onde chamam mais a atenção os escândalos de Brasília, as obras da Copa e as trivialidades das novelas globais.
Para quem pensa, para quem gosta das letras, ele já está fazendo falta. RIP!


A CARNE É CRÁPULA

A carne é crápula
sob o olho cego
do desejo.

A carne é trôpega
se fala sob o pêlo
de outro desejo alheio.

A carne é trêmula
e fracta.
Crina de nervos,
veneno de víbora,
a carne é égua
sob o cabresto
de seus incestos
sem freios.

Fálica e côncava,
intrépida e férvida,
a carne é estrábica
nos entreveros
do sexo
com seus desacertos
conexos.

Sob o olho
sem mácula e cego,
a carne é crápula
nos arpejos
indefesos
de seus perversos
desejos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Golpes baixos terão resposta à altura.