sábado, 7 de fevereiro de 2009

Torquato

O Brasil é um país que adora virar as costas para o que tem de bom. Indiferença de uns, falta de sensibilidade de outros, mas, sobretudo, ignorância por parte da imensa maioria. Por exemplo, no Brasil se lê pouca poesia. Entrei nesta semana numa livraria e o proprietário me disse que vem comprando cada vez menos livros de poemas. "Quase não vende. Tenho livros aqui da Cecília Meireles, do João Cabral, Drummond e outros ainda do tempo em que abri a livraria, há mais de oito anos", desabafou.
O que vende? Os livros de auto-ajuda. Também uma série com fotos de animais e frases supostamente bem-humoradas a título de legenda. É de um autor das estranjas, que inclusive veio recentemente ao Brasil para conhecer o povo que consomo seus livros aos milhões de exemplares. Vontade de tomar um copo de Baygon...
Reparou que ninguém mais lê Paulo Leminski ou Torquato Neto, por exemplo? Só de raiva, aí vai um legítimo Torquato para iluminar essa manhã de sábado:

Cogito

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.

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Golpes baixos terão resposta à altura.