Poucas coisas me comovem mais do que a forma como algumas mulheres se dedicam a seus filhos. Eu sei que é uma coisa instintiva, animal, aquele negócio da fêmea que cuida da cria pela preservação da espécie. Mas é comovente porque no fundo, se existe amor no estado puro, esse é o amor entre mãe e filho. Porque uma criança, no fim das contas, ama sem outro interesse que não seja o de amar. E uma mãe ama sua cria sem outro interesse que não seja o de vê-la crescendo bela, pronta para enfrentar e vencer os desafios do mundo.
Em instantes, vou me encontrar com minha mãe. Vou beijar seu rosto cansado, de quase 70 anos, tocar suas mãos sempre quentes, ouvir sua voz reclamando de mil doenças e de cinco mil tipos de dores pelo corpo. Mas eu vou comer o frango em molho que ela faz, divina e incomparavelmente. Frango em molho, arroz branco, pão e vinho. Vamos falar sobre as coisas do mundo e o mundo das coisas. Ela vai me perguntar por que eu escolhi o sábado à noite, vai dizer que eu devia estar por aí, com amigos, com uma namorada, essas coisas. Mas vai se sentir feliz em me receber e em ter a minha companhia.
Vou levar antecipadamente o meu presente do dia das mães, porque nesta data estarei no Mato Grosso e, no dia 13, embarcando para a Europa.
Quando vejo esta foto aí embaixo, eu divago de modo incontrolável. Já fiquei olhando para ela por quase uma hora. A crueldade do nazista disparando sua arma me gela inteiro. Quem mais, além do fotógrafo, estava ali, presenciando a cena? O que sentiram e pensaram essas pessoas? Teria havido pelo menos um espasmo de revolta em alguém? Mas o que faz desta foto a cena mais intrigante e cruel de todas as que vi daquele período negro em que foi mergulhado o mundo durante a Segunda Guerra é a forma como a mãe, no seu instinto irreprimível, tenta ingenuamente proteger a criança da besta que se precipita em sua direção com toda a ferocidade.
Paro por aqui, para não perder o apetite.
Parabéns. Um texto sensível, que me comoveu.
ResponderExcluir