Está provado que o CQC foi usado igual papel higiênico no Paraná. Fez uma reportagem até interessante, é verdade, ao denunciar que o governador Requião empilhava ônibus escolares no pátio do Palácio Iguaçu para distribuí-los ao sabor de seus interesses políticos. Enquanto isso, crianças ficam sem aula por falta de transporte no interior do Estado. Mas o CQC não informou que dois homens entrevistados entre os ônibus eram, na verdade, assessores do deputado estadual Douglas Fabrício (PPS), adversário político de Requião.
"Qual o problema que adversários sejam entrevistados numa reportagem denúncia?", perguntará aquela senhora ali, na primeira fila, com o poodle no colo. Nenhum, exceto o fato de que teria sido mais honesto admitir que a denúncia partiu de adversários políticos. Se não há problema em que adversários - ou prepostos de adversários - apareçam dando entrevista, também não há problema em que sejam adequadamente identificados.
Mas a coisa não fica aí. Na mesma reportagem, o CQC foi ao município de Barbosa Ferraz para mostrar os efeitos da falta de ônibus entre as crianças paranaenses. Fez a reportagem como deveria ser: procurou o prefeito, não achou; entrevistou um desastrado procurador jurídico, que mais atrapalhou do que esclareceu, e entrevistou estudantes sem transporte e seus indignados pais. A pergunta é: por que Barbosa Ferraz, quando o Paraná tem 399 municípios?
Aí vem a prova inconteste de que o CQC foi usado numa bem urdida artimanha política. Poucos dias antes, veio a público a nomeação do vereador Edenilson Aparecido Miliossi, de Barbosa Ferraz, na Assembleia Legislativa, acumulando, de forma criminosa, dois vencimentos no serviço público. Em qual gabinete? Do mesmo Douglas Fabrício. Miliossi também é do PPS. A denúncia foi feita no último dia 3 na "Folha de Londrina" - uma semana antes de o CQC ser chamado ao Paraná. Miliossi é do mesmo PPS de Douglas Fabrício.
Segundo a Folha, o próprio deputado admitiu que Miliossi esteve nomeado em seu gabinete, "mas por apenas um mês". Ora, ainda que fosse por um dia isso já teria caracterizado improbidade, complicando a vida do "vereador fantasma". Miliossi, flagrado com a boca na botija, disse entender que não havia problemas em acumular o vencimento, pois não havia "incompatibilidade de horário". Ou seja, é réu confesso.
Na prática, o CQC foi usado por Douglas Fabrício para dar um pau no Requião e outro nos adversários de seu acólito em Barbosa Ferraz. O interesse maior da reportagem, portanto, não foi defender as pobres crianças paranaenses, sem transporte escolar, mas um mero exercício de felonia política, uma sucessão de mesquinharias e futricas.
Talvez por saber disso o prefeito de Barbosa Ferraz, Mário César Lopes de Carvalho, tenha classificado a reportagem como "uma canalhice" do CQC. Na semana passada, o prefeito foi morto com cinco tiros. Um crime passional, apurou a polícia depois. Mas que deve ter resultado em estouro de champanha no gabinete de Douglas Fabrício. Se abusar, até entre alguns membros da equipe do CQC...
Essa foi foda! Na veia, Milton, na veia!
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